O Testemunho de Solidariedade e Heroísmo de Nossa Tripulante Michelle Duso

SOUTH SYSTEM
6 min readMay 16, 2024

O relato da nossa tripulante Michelle Duso durante a tragédia no RS revela a força e a solidariedade que permeiam nossa equipe e são vistas multiplicadas em outras ações da nossa tripulação South System.

Ao enfrentar desafios, Michelle não só distribuiu ajuda, mas também buscou resgatar vidas, destacando o espírito de heroísmo que nos une. Seu relato enfatiza o apoio dos gestores e colegas, que não apenas ofereceram suporte emocional, mas também apoiaram a ausência no trabalho para priorizar as vidas em meio à catástrofe.

Leia sobre a importância da mobilização coletiva em momentos de crise e a capacidade de cada um fazer a diferença através de pequenas ações de solidariedade e empatia.

Fala, galera! Vou compartilhar um pouco sobre minha semana em que busquei ajudar o povo do RS, com a colaboração de muitas pessoas. No primeiro dia da tragédia, enquanto os abrigos se formavam e a necessidade de alimentos, produtos de higiene e roupas surgia, decidi agir. Junto com minha namorada, fui ao mercado para comprar suprimentos e ajudar nos resgates, após meu irmão pedir que pegasse um bote inflável em casa (cujo dono era meu pai).

Mesmo com a preocupação dos meus pais, não resisti à oportunidade de ajudar, como sempre faço, mesmo sem ter habilidades de super-herói. A vontade de contribuir é forte, e mesmo que não saiba exatamente como ajudar, sempre busco formas de fazer a diferença.

No segundo dia, enquanto meu irmão se dirigia ao bairro Humaitá para auxiliar nos resgates, eu buscava recursos e apoio. Consegui uma bomba manual emprestada de uma amiga e nos dirigimos ao shopping Iguatemi, sem sucesso na busca por botes. Ainda assim, adquirimos água e nos dirigimos ao viaduto na Dom Pedro II, onde se concentravam os resgates. Criamos posts nas redes sociais, compartilhando o contato do meu irmão para solicitações de socorro. Testemunhar a chegada dos resgatados era emocionante, mas também impactante, diante da devastação que presenciávamos.

Naquele ponto, a cena era comovente: pessoas chegando em diversos tipos de embarcações, desde barcos a jet skis, para ajudar. Cada resgate bem-sucedido trazia um misto de tristeza e alívio, uma vibração compartilhada entre todos os presentes. Era uma verdadeira demonstração de solidariedade e união em meio à tragédia.

Liguei para uma colega que morava no Humaitá e para meu gestor, que estava prestes a ser pai naquele fim de semana. Fiquei aliviada porque minha colega foi resgatada de barco e meu chefe tinha saído antes de tudo começar. Ele me deu todo apoio para me ausentar do trabalho, caso eu precisasse.

A frase que não esqueço: “Mi, se cuida. Se precisar faltar ao trabalho, tudo bem. O projeto pode esperar, as vidas não”.

Tive o apoio da BP da South System Renata Fish, que estava em contato comigo direto também. Passamos a tarde no local e eu em contato com meu irmão, que estava nos resgates no bairro Humaitá. Recebemos a mensagem que o dique do Sarandi tinha transbordado e era para evacuar. Tentei contato com meu irmão, mas sem sucesso.

Depois de meia hora, consegui falar com ele e avisei que já estava ficando noite e muito arriscado. Ele, então, depois de 9 horas resgatando, disse que já estava com muita dor e iria deixar o bote para o pessoal que estava ali com ele ajudando. Não vimos mais o bote, só na TV no Jornal do Almoço. Foi quando meu pai disse: “Ah, meu bote”, e eu contei. Pois então, ficou lá com o povo.

Enquanto nos esforçávamos para ajudar, uma preocupação constante era a dificuldade de comunicação com uma amiga em Eldorado. Felizmente, ela conseguiu se comunicar e foi resgatada em segurança, embora uma das suas cachorras, Mel, tenha pulado do resgate e desaparecido. Mantive a esperança de encontrá-la.

Recebi um chamado no WhatsApp informando que no Pontal havia uma urgência de gelo e ração para animais. Sem recursos, mobilizei amigas e arrecadamos o necessário. Parti com Kelly, enfrentando ruas alagadas até chegarmos lá. Porém, apesar do esforço, ao chegarmos, fomos informadas de que as doações não eram mais necessárias. Minha amiga estava prestes a me “matar” devido à situação, mas acabamos rindo e registrando o momento com uma foto. Contatei uma integrante do grupo que informou a abertura de um abrigo para cães no bairro Assunção, e para lá nos dirigimos com sucesso.

No dia seguinte, mesmo com a mente focada no trabalho, sentia o peso da incerteza sobre Mel e o desejo de ajudar mais. Em um impulso, decidi embarcar em uma embarcação em direção a Eldorado, acompanhada por um bombeiro civil prestativo que se dispôs a auxiliar. Foi durante essa jornada que tive um encontro inesperado com Pedro Scooby. Agradeci-lhe por todo o esforço em prol do nosso estado, e sua presença trouxe um pouco de esperança em meio ao caos.

Após uma conversa emocionante com diversas pessoas durante a travessia, retornei para casa exausta, porém com o coração cheio de esperança. Mais tarde, recebi a notícia de que Mel seria encontrada em segurança. A emoção invadiu meu ser, pois mesmo diante de tantas adversidades, o reencontro com Mel representava um raio de luz em meio à escuridão da tragédia.

É realmente incrível como, mesmo diante da tragédia que assola o Rio Grande do Sul, a força e solidariedade do povo gaúcho se destacam. São tantas pessoas se unindo, doando seu tempo e esforço para salvar vidas e cuidar daqueles que nunca viram antes. É impossível não se emocionar com tudo isso. E para aqueles que tentam se aproveitar da situação, lembro que a justiça chegará um dia.

Apesar de toda a devastação, há histórias como a do resgate da Mel que nos trazem um pouco de esperança.

Sinto que aqueles que não foram afetados diretamente pela enchente foram escolhidos para ajudar aqueles que foram. Em minha família, graças a Deus, todos estão bem.

É comum ouvir a frase “O mundo é assim mesmo, não tem jeito”, mas discordo veementemente. Apesar das pessoas más, são as muitas pessoas boas que fazem a diferença e tornam o mundo um lugar melhor. Sinto orgulho de todos os heróis que emergem em momentos como esse. Se você acha que não faz parte disso porque não salvou vidas ou não doou dinheiro, está enganado. Apenas o fato de pensar no próximo, ter empatia, doar seu tempo ou mandar boas energias já o torna um herói.

Se cada um de nós despertar o herói dentro de si, podemos fazer do mundo um lugar muito melhor. Agradeço a Deus por me permitir ajudar quem precisa e agradeço de coração a todos que tornaram essas ajudas possíveis.

Agradeço também à South, que não apenas extrai o melhor de nós como profissionais, mas também como seres humanos, nos proporcionando oportunidades de participar de projetos para ajudar o próximo. Sabemos que ainda há muito a ser feito, então não vamos parar de ajudar, galera.

Este post é uma adaptação do relato completo da nossa Tripulante Michelle Duso, quer ler completo? Clique Aqui.

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